sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O PAINTBOLL: PARTE I

O PAINTBOLL: PARTE I

“Hay que endurecerse [....]” – Che Guevara.

Todo mundo sabe: qualquer evento tem um início, uma ação, que provoca uma série de reações ou consequências. 
Eu sei que o que está ocorrendo em Rio Grande começa com a UTMIB. Eu sei, também, que começou antes que eu caísse de paraquedas no meio das consequências que o Reitor dessa Universidade desencadeou.
E pior: eu ainda não obtive todos os dados, não consegui reunir todos os documentos que andam por aí, perdidos, ou resgatados pela corja que trabalha para o pseudo Dr. Vitor Stein. 
Por isso vou continuar minhas investigações, mesmo sabendo que isso pode me levar a ser encontrada com a boca cheia de formiga num dos matagais que circundam o Saco da Mangueira.
Como eu disse, a verdade tem mais maldade do que horror. 
E é isso o que realmente pode acabar com a pessoa. Porque o horror imobiliza só por um tempo. Mas a maldade acaba matando de vez a humanidade de alguém, impedindo a reação necessária e proporcional.
Por isso preciso contar quando, onde e como eu entrei nesse rolo, até porque vai me ajudar a manter um pouco de sanidade e, quem sabe, organizar melhor meus passos. Vai me permitir ‘chorar’ pelo que perdi, sem que eu precise ficar arrasada com os fatos. Então, foi assim que tudo teve início para mim.
Foi mais ou menos há um ano. 
Eu e grupo de amigos e alguns nem tão amigos sempre combinávamos uma partida de Paintboll a cada quinze dias, num campo que foi montado numa Indústria de Pescados desativada. Os prédios estavam todos praticamente em ruínas, o que foi bem aproveitado por um conhecido meu para a instalação do campo. 
O jogo ocorria sempre numa sexta e quando era certo que todos os participantes teriam folga no sábado. A partida iniciava às 22h e terminava à meia-noite. O grupo era formado por policiais, enfermeiros, estudantes universitários, médicos ou comerciantes, profissionais que tinham muita coisa para carregar nos ombros e precisavam de uma atividade assim pra relaxar.
Geralmente era composto pelo mesmo bando de conhecidos. Às vezes, alguém trazia uma pessoa nova para participar. O número era basicamente o mesmo: 15 pessoas, que se revezavam durante a partida.
Na sexta em que tudo desandou, Beto, que também era o ‘feliz’ dono do empreendimento, resolveu combinar a partida para a meia-noite. 
A conversa antes da partida foi mais ou menos assim:
“- Realmente eu não sei porque o Beto tinha que inventar essa partida logo nesse horário. Além de frio, está uma umidade terrível e a cerração da lagoa, pra variar, já ta tomando conta de tudo!
- Para de resmungar, Clara. Quer coisa melhor do que esse clima pra tornar o paintboll mais emocionante? Tu ta parecendo uma menininha, como sempre, nem parece que é da polícia. O Beto foi muito criativo quando inventou uma partida a essa hora e com esse tempo. Assim, põe um pouco de adrenalina no jogo. Senão fica tudo sempre igual.
- Não to resmungando. Só acho uma ideia idiota. Parece aqueles filmes americanos de quinta categoria; filmes tipo ‘trash’. E não sou uma menininha, Carlos. Senão nunca entraria nas roubadas que vocês dois inventam. Duvido que o resto da turma venha. 
- Xi, tu perderia a aposta. Olha lá, a turma tá chegando. Oi, Beto. Estamos loucos pra te zoar de vez. Essa partida é pra ontem ou pra hoje?
- Já vai começar, Carlos. Eu já dividi os times. Vai ser como sempre. Mas antes tenho que avisar que tem uma surpresa no jogo. Sabe como é: pra ficar mais real. 
- Lá vem ele de novo, com “mais real”! Vamos duma vez com isso, preciso me exercitar, mas também preciso dormir.
- Sempre reclamando, Clara. Mas garanto que hoje isso não vai acontecer. Essa partida vai entrar pra história, graças a mim, o Beto.
- Quero só ver. E então, qual é a surpresa?
- Pessoal, façam uma rodinha aqui. Eu falei rodinha, não retângulo. Agora sim. O negócio é o seguinte. Uns caras conhecidos meus pediram pra que eu deixasse que um grupo, que tá fazendo uma oficina pra um filme, se tornassem nossos alvos móveis, sabe como é, pra ver se eles já pegaram o jeito dos personagens. Então, hoje, além da bandeira, temos que “detonar” o maior número possível de atores que encontrarmos pelo percurso.
- Sei, sei; mais uma invenção maluca. Tudo bem. E como vamos saber quem são eles nessa escuridão? Afinal podemos acabar acertando um companheiro de time.
- Seria uma perda justificável na “guerra”. Mas, não vai acontecer. Nós estaremos com os uniformes de praxe, e eles com as roupas dos personagens por cima de roupas de proteção. Então não tem como a gente se enganar. Só não posso dar mais detalhes porque senão o elemento surpresa vai por água abaixo. Podemos começar, então.
- Mas...
- Nada de mas, Clara. Sempre inventando um problema. Será como sempre, apenas vamos encontrar alguns elementos que não são dos times e caçá-los até alcançar o alvo principal. O grupo que eliminar mais inimigos, detonar mais alvos móveis e chegar à bandeira em primeiro ganha. É isso. Prontos? Então que comece a “matança””.

Continua...

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