RELATO II: 'INDIVÍDUO 3'

18:00 da tarde - UTMIB
-Dr., o senhor tem certeza que quer mesmo fazer isso?
-Absoluta Karloff. Os testes deste indivíduo foram surpreendentes, além daquilo que precisávamos para nossa experiência. Portanto, porque adiar o inevitável?
-Mas, ele não sabe o que vai acontecer...
-Ele ASSINOU a autorização. Então está tudo de acordo com a lei.
-Mas o ‘indivíduo’ assinou achando que estaria participando de uma experiência para cura do câncer hepático, Dr.!
-Mas e ele não está, karloff! Depois dos procedimentos o fígado nunca mais vai trazer nenhum problema para nosso voluntário! 
Dr. Vitor Stein, falou de forma irônica, rindo do estagiário que o olhava com espanto. 
–Vamos Karloff, já falamos sobre isso diversas vezes. A ciência requer certos sacrifícios, sacrifícios muito grandes, que somente homens a frente de seu tempo estão dispostos a fazer. E como bem sabes, quem não tem tal capacidade acaba sucumbindo. – finalizou o geneticista, olhando significativamente para seu estagiário. 
Karloff entendeu muito bem o que seu professor quis dizer e resolveu se calar. Ele não era tão corajoso a ponto de comprometer sua vida. Resolveria o problema assim que deixasse de ser assistente daquele maluco, mas para isso precisava colher os dados certos. Somente depois poderia provar o que estava sendo feito na UTMIB.
-O senhor tem razão, como sempre. Vamos continuar, então.
Dr. Stein colocou a mão direita sobre o ombro esquerdo de Karloff, olhando penetrantemente os olhos do rapaz.
-Eu sabia que eras um verdadeiro cientista, Karloff. Fiz bem em te escolher. – disse aproximando o rosto anguloso e determinado, com olhos ofuscantes de loucura, da cara do jovem. – Não me decepcione, filho, tenho muita fé em ti.
Karloff assentiu balançando a cabeça e desviando o rosto. Se aqueles olhos entrassem em sua mente nunca mais o estagiário conseguiria sair do rolo em que se meteu.
-Bom, vou começar o procedimento Dr. Com licença.
-A vontade Karloff. – o geneticista deu um passo para o lado e deixou o assistente passar em direção ao laboratório que se via do outro lado de uma ampla janela. Depois, o Dr. apertou um botão e disse:
-Eu acredito que ele está dando para trás. Fique atento.
-Ok. – respondeu simplesmente a voz do outro lado.
Um silêncio enorme tomou conta do ambiente. 
Dr. Stein pensou: “Falta tão pouco agora, tão pouco”. 
E fechou os olhos cansados por alguns segundos. Quando os abriu, eles brilhavam com um fogo de determinação tão intenso quanto a loucura que grassava na mente do cientista. 
Por fim, ele se dirigiu para o laboratório em que Karloff já se encontrava. Estava na hora do show.
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00:00 da noite – Uma semana antes:
-Boa noite, seu José. Então, estamos prontos para a mudança?
-Oh, Dr.! Que bom ver o senhor de novo. – seu Zé para um segundo de falar, com ar de cansaço e dor. Fazia um dos dias mais frios do inverno em Rio Grande. – Pronto, eu to. Mas tava pensando... Eu vou ter que tomar banho lá? Eu pergunto porque, sabe como é, né Dr., neste frio posso ficar doente e acabar vestindo o terno de madeira. – Seu Zé riu um riso desdentado. O bafo de cachaça chegando ao nariz do Dr. e causando mal estar.
Vitor Stein finge que não sente o ranço que vem da boca do bêbado, com seu corpo sujo e decrépito. O Dr. nutre um ódio intenso por aquele indivíduo totalmente inútil para ele mesmo, para sua família, para a sociedade, que ainda tem que conviver com o mal cheiro que ele deixa no local onde dorme todo dia, embaixo da marquise da Rodoviária.
-Sim, seu José, tem que tomar banho, porque nós vamos cuidar de tudo agora, inclusive da sua doença. Lembra? O senhor assinou os documentos na semana passada, para participar de uma pesquisa para a cura do câncer no fígado.
-Ah! Lembro, sim, o ‘ganso’ me incomoda demais, Dr.. Dói muito, muito mesmo. Mas to com medo. E se não der certo? E se eu morrer? Aqui pelo menos a doença tá quieta. Mas no hospital, ela pode ‘acordar’ e me matar na hora, ou aos pouquinhos. Acho que não vou mais não, Dr. – seu Zé falou, aproveitando para dar um talagaço na garrafa de cachaça, que estava escondida no cobertor fedorento que cobria mal e mal seu corpo.
Vitor baixo a cabeça, contrafeito, cheio de asco e ódio. “Lá vamos nós outra vez”, pensou e revestiu sua cara com o sorriso mais branco e amistoso que tinha.
-Eu entendo seu medo, José. Mas tu assinaste os papéis, se desistires agora, irás perder a oportunidade única de ter tratamento de graça e, quem sabe, a cura total. Por que lá, na UTMIB, estamos bem perto, sabe, da cura. Se tu não participares depois vai sair muito caro o tratamento. O seu colega já está lá e está progredindo bem.
-O Manoel está lá? Eu não sabia. Achei que aquele cretino tinha morrido por aí e sido enterrado como indigente, como acontece com gente como nós. Que bom pra ele. – seu Zé disse, rindo de alegria pelo amigo de duas décadas de rua. Então ficou sério. – Mas não Dr. eu não vou mais. E sabe por quê? – Ele perguntou com um olhar ansioso no rosto que aproximou do de Vitor, causando um embrulho no estômago do Dr. – Eu fico nesse ponto porque a minha filha passa todo dia aqui na Rodoviária. Ela não me conhece mais, claro, mas pelo menos eu sei que ela tá bem. As vez ela vem até com meu neto.
-Sabe seu Zé, - disse Vitor Stein com uma paciência fingida. – sinceramente, eu entendo o seus sentimentos. Mas o senhor assinou os malditos papéis! – quase gritou. 
O Zé se encolheu, sentindo um medo repentino do bom Dr.
Vitor se levantou. Olhou para os lados e depois disse encarando os olhos arregalados do indigente:
-Arrastem esse animal para o furgão. Rápido.
Quatro homens seguraram seu Zé, aplicaram rapidamente um tranquilizante com uma dose cavalar em seu braço, antes que ele pudesse gritar. Embrulharam o bêbado no cobertor, enquanto um furgão preto estacionava nas sombras proporcionadas pelas árvores da Praça do Exército. Os quatro homens, vestindo uniformes negros, cobriram rapidamente os poucos metros e jogaram o indigente nocauteado dentro do veículo, fechando imediatamente as portas.
O mendigo que estava deitado a alguns metros do local onde seu Zé sempre ficava se remexeu, quase acordando. Um homem alto e musculoso, parado ao lado do Dr., colocou a mão dentro de seu capote preto e segurou algo. Mas o mendigo não fez mais nenhum movimento. O crack não deixaria ele acordar nem se uma bomba explodisse ao seu lado. 
Dr. Vitor Stein juntou o restante dos pertences do mendigo (uma mochila surrada e um travesseiro velho, carcomido por percevejos e cheio de piolhos) e se dirigiu ao furgão. Jogou tudo na parte detrás do mesmo e entrou na frente, sentando ao lado do motorista.
-Vamos embora daqui de uma vez.
O carro saiu em disparada pela rua, aproveitando-se da falta de iluminação e fiscalização no lugar, e desapareceu na madrugada.
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18:30 da tarde – UTMIB
Vitor acompanhou todos os preparativos feitos por Karloff para o início do teste. O estudante transpirava feito um boi, com medo de errar na concentração exata dos componentes químicos necessários para realizar o procedimento criado pelo seu professor.
Enquanto o Dr. Stein esperava que o estagiário terminasse essa parte do experimento, ele ia monitorando as reações físicas do sr. José, assim como seu nível de consciência. Ele não poderia sair do coma induzido antes que todos os soros fossem injetados em seu corpo.
Além do Dr. e Karloff, estavam na sala uma enfermeira e um residente de Medicina bem conceituados na cidade. Sua responsabilidade, além de cuidar dos instrumentos e máquinas que eram utilizados durante o processo, seria cuidar do paciente após receber a fórmula que estava para ser injetada em seu corpo.
Por fim, karloff terminou os compostos químicos e chamou o Dr. para verificar se tudo estava dentro das especificações técnicas. Vitor realizou um ‘check list’. Nada havia sido esquecido, nenhum soro estava fora dos padrões. Ele sabia que, dessa vez, tudo daria certo. Olhou para o assistente com entusiasmo. Um brilho de alegria e vitória emanava de seu rosto.
-Vamos começar, então. – Vitor falou.
Karloff, sabendo que sua parte havia sido feita, atravessou a porta automática com vidros inquebráveis, que separava a sala de observação do laboratório, e se sentou numa das cadeiras diante da grande janela. Agora ele teria apenas que esperar os resultados do trabalho realizado por Vitor. 
O estagiário não percebeu a presença de um homem alto e musculoso, que estava num dos cantos escuros da sala. Ele era muito eficiente e silencioso. Trazia consigo uma pistola 9mm no coldre do cinto que fazia parte do seu uniforme preto.
Vitor mandou a enfermeira descobrir o paciente. O homem esquálido vestia uma daquelas ridículas camisolas hospitalares que cobria totalmente a parte da frente do corpo, mas era aberta nas costas. Karloff sentia pena daquele miserável.
Vitor se aproximou colocando luvas cirúrgicas e monitorou pela última vez as funções vitais do homem sobre a maca. A enfermeira arrumou a máscara no rosto do Dr. Já havia um mini cateter puncionado numa das veias do braço da cobaia. Vitor apenas precisou conectar o sistema de transfusão do soro experimental ao cateter. Dessa forma, assim que o paciente estivesse nas condições ideais, seria necessário apenas abrir a válvula para o líquido ser introduzido em seu organismo.
Os aparelhos demonstravam claramente que nada poderia fazer a cobaia reagir ao que seria feito pelos cientistas, com aquilo que a doença ainda permitia que existisse de seu organismo. O homem estava totalmente inconsciente, devido à dose cavalar de sedativos e anestésicos, que a equipe médica havia administrado, antes dele ser levado para aquela ala. 
Após verificar as funções cerebrais, Dr. Stein ordenou:
-Podem induzir a parada cardiorrespiratória.
Karloff estremeceu na sala de observação. 
A equipe manteve-se fria como gelo e cumpriu a ordem recebida a contento. Quando o paciente José Silva da Silva parou de respirar abruptamente, Vitor abriu o sistema de transfusão conectado ao braço do paciente. Imediatamente o soro experimental começou a ser introduzido no sistema vascular daquele que, a partir desse momento, seria conhecido como ‘Indivíduo 3’. 
Dr. Vitor, então, disparou um cronômetro que tinha na mão. O cientista deveria esperar exatamente cinco minutos, nem um segundo a mais, nem um segundo a menos, para a infusão do soro.
Durante 300 segundos Vitor olhou fixamente para a tela do equipamento que monitorava as funções cerebrais do homem esquálido sobre a maca. Quando uma das linhas que identificavam essas atividades apresentou a primeira falha, o cronômetro apitou. Dr. Stein ordenou, sem voltar-se para a equipe, que iniciassem os procedimentos de ressuscitação. Eles deveriam trazer a cobaia à consciência em, no máximo, quatro minutos.
Um médico residente se inclinou sobre o peito do ‘Indivíduo 3’, posicionando ambas as mãos sobre o osso esterno, e começou a comprimir com força o local. A cada trinta compressões, a enfermeira apertava duas vezes um insuflador para enviar ar aos pulmões paralisados da cobaia. Dois minutos e meio passaram nesta agonia, sem que o homem demonstrasse que respondia as tentativas de reanimação.
Diante da falta de resposta do corpo moribundo, Vitor ordenou o uso do desfibrilador, começando com 200j. A enfermeira preparou rapidamente o instrumento, enquanto o médico passava o gel no peito da cobaia. A primeira descarga que atingiu o tórax do indivíduo fez com que seu corpo se soerguesse um pouco da cama. Uma linha tênue surgiu no Monitor de Sinais Vitais: uma batida, duas batidas do coração; depois desapareceu.
Três minutos já haviam passado. O Dr. mandou aumentar a descarga elétrica para 250j. Novamente o tórax do paciente foi fulminando, fazendo seu corpo se contorcer. Quatro batidas do coração e mais nada.
-Me deem licença, seus incompetentes! – gritou Vitor. Se não acordasse José em 40 segundos tudo estaria perdido.
Vitor aumentou a potencia do desfibrilador para 330j e apertou as pás do instrumento no peito magérrimo do ‘Indivíduo 3’. A descarga causou uma espécie de suspiro de afogado, que saiu da garganta da cobaia, e tomou o ambiente. Karloff sentiu um arrepio diante do som horripilante. O coração deu um sinal fraco e inconstante de vida. Três minutos e meio. 
“Eu não vou te perder!”, o cientista pensou furioso e destemido. 
Um destemor equivocado.
O Dr. ficou repetindo as compressões no peito da cobaia até que observou, na tela do Monitor, que o coração do homem apresentava batimentos mais constantes e mais fortes. Aos quatro minutos e meio, o coração se estabilizou.
Vitor se encostou brevemente no armário que havia atrás de si, extenuado. Olhando para a equipe com olhos de condenação e alívio ao mesmo tempo. Descansou alguns minutos, observando atentamente as batidas do coração do homem e o aparelho que demonstrava que as funções cerebrais do mesmo estavam ativas.
-Agora precisamos esperar por uma hora. Estarei na sala ao lado, tomando café e descansando. Vocês não saiam daqui até eu voltar e confirmar todos os dados que forem coletados, entenderam?
A equipe médica balançou a cabeça nervosamente. Ninguém queria ser o alvo de um dos surtos de raiva descomedida do Dr. Stein.
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19:30 da tarde – UTMIB
Vitor e Karloff discutiam o experimento de hoje (ou melhor, o estagiário ouvia os comentários entusiasmados do Dr.), quando uma voz feminina ressoou, através do sistema de comunicação, na sala em que estavam:
-Dr. Stein está começando. 
Vitor levantou-se com rapidez e disse para Karloff:
-Vamos, ainda temos trabalho para fazer. Mas acredito que tudo dará certo. O cronograma está sendo cumprido com precisão.
Antes de sair da sala, o Dr. dirigiu-se a uma porta que ligava a sala de observação a outra ala do Centro de Pesquisas. Abriu o acesso e disse alguma coisa, que Karloff não ouviu, para alguém que estava de prontidão do outro lado.
Após, ambos entraram no laboratório. O estagiário ouviu a porta automática se fechar com um som suave. Prendeu a respiração por alguns segundos, vendo Vitor se dirigir a maca onde a cobaia se encontrava. 
O assistente soltou o ar preso nos pulmões vagarosamente, sentindo uma inquietação e um peso nos ombros que não sentia desde que haviam retornado da expedição a Antártida, e seguiu o Dr. Sua nuca estava arrepiada só de ver o corpo começando a se mexer quase imperceptivelmente.
Vitor monitorou os aparelhos, bem como avaliou as pranchetas de dados preenchidas pela equipe que ficou observando a cobaia. Os números e os dados vitais correspondiam ao esperado.
Dr. Stein se aproximou da maca, ergueu uma das pupilas do ‘Indivíduo 3’ direcionando uma pequena lanterna para o olho dele. Não havia mais qualquer indício daquele que um dia fora José Silva da Silva. Suas lembranças, seus desejos, sua personalidade, tudo que poderia relembrar um ser humano deixou de existir no exato momento em que ele retornou do coma induzido, consequência do soro criado por Vitor e Karloff.
O estagiário observou o olho em exame. Apresentava alguma reação, conforme esperado, embora lenta. A íris ainda se dilatava e se contraia, embora em grau menor. Será que havia dado certo? Será que finalmente Stein conseguira o que vinha perseguindo desde que voltaram da Antártida? 
“Se isso tiver acontecido, estarei livre desse cara finalmente”, o estagiário pensou, momentaneamente esquecendo o que significava a experiência que ele estava ajudando Vitor a realizar.
Dr. Stein tocou o ombro da cobaia e fez uma pergunta a ela. A princípio, nenhuma reação. Vitor repetiu o questionamento:
-Como está se sentindo?
O ‘Indivíduo 3’ virou lentamente a cabeça em direção ao som que ouviu. Abriu a boca, como quem deseja dizer algo, mas o som que saiu de seus lábios ressecados foi muito fraco. Ele tentou erguer o braço, mas este estava amarrado à cama com ataduras. Quando viu o gesto, Vitor pediu que Karloff desamarrasse o membro que a cobaia tentava mexer.
Karloff tentou protestar, mas o Dr. o olhou de uma tal maneira que o fez obedecer prontamente. Quando o braço estava livre, Vitor repetiu a pergunta. O ‘Indivíduo 3’ olhou para ele, olhou para seu braço e voltou a olhar para o rosto a sua frente, mexeu a boca e um pequeno som articulado saiu de sua boca. Vitor aproximou seu rosto um pouco mais da cara da cobaia, repetindo a pergunta.
Então, aconteceu.
Karloff viu a mão daquela coisa prender fortemente uma das mechas do cabelo de Vitor, enquanto suas íris perdiam qualquer expressão e se tornavam totalmente opacas, com o globo repleto de veias que estouravam assim que surgiam. O estagiário se afastou da cama imediatamente, com medo daquilo que mais uma vez tinham criado.
Vitor tentou puxar o cabelo, mas a criatura era mais forte do que ele tinha pensado. E ela urrava, urrava como um coiote esfomeado. A equipe médica estava em choque, num dos cantos do laboratório. Eles nunca tinham visto algo assim acontecer.
Vitor gritou com o médico e a enfermeira, enquanto a besta tentava se aproximar de seu rosto, batendo os dentes numa ânsia desesperada. Os gritos do Dr. fizeram a equipe reagir. Eles se aproximaram rapidamente e conseguiram soltar o chefe das garras do monstro. 
A força usada para soltar Vitor fez com que ele escorregasse no piso cerâmico e caísse, batendo a cabeça no chão. Ele ficou levemente tonto.
Sua visão dupla permitiu que ele visse quando o ‘Indivíduo 3’ segurou o braço da enfermeira. Ela tentou se soltar, mas a cobaia era muito forte. A criatura acabou caindo da maca, por causa do movimento brusco que fez, derrubando a maca, onde um de seus braços ainda estava preso, e levando junto a moça. O ‘Indivíduo 3’ caiu sobre ela. Imobilizada a enfermeira gritava, sem conseguir se soltar da mão que segurava seu braço e do corpo magro da besta, demonstrando como era forte. 
Então a cobaia mordeu a enfermeira uma vez, depois outra, arrancando pedaços de seu braço. A enfermeira gritou até o ar de seus pulmões acabarem. Depois, foi sendo arrastada pela dor e pela escuridão, até que não sentiu mais nada.
O jovem residente tentou se dirigir para a porta de saída do laboratório, enquanto Vitor começava a se erguer do chão com certa dificuldade. Mas a criatura, deixando de lado sua primeira presa, arrastou a maca atrás de si, e barrou com uma agilidade imprevisível a saída do médico.
O ‘Indivíduo 3’ agarrou o jaleco do médico e o puxou para trás. Ambos caíram no chão. O monstro prendeu o corpo do residente num abraço mortal e arrancou um pedaço do pescoço da vítima, que gritou desesperadamente por ajuda.
Vitor já estava em pé e só observava a cena. Karlof tinha escorregado contra um armário e estava sentado no chão, segurando a cabeça entre as mãos trêmulas, tão pálido quanto a morte. Enquanto a cobaia se distraia comendo pedaços do médico, Dr. Stein segurou o colarinho de Karloff, erguendo o estagiário bruscamente do chão, e saiu do laboratório, acionando a trava de segurança da porta.
Karloff gritava desesperado, dizendo que a enfermeira ainda estava viva, que eles precisavam tirar a moça de lá, que ela ainda tinha uma chance. Vitor simplesmente disse para ele calar a boca. Argumentou que não era possível fazer nada por ela. Que ele deixasse de se preocupar.
Então, Dr. Stein se sentou calmamente na sala de observação e esperou para ver o que iria acontecer dali em diante. 
Cerca de 15 minutos depois, enquanto a cobaia ainda estava se deliciando com a carne do médico, a moça, que um dia foi uma excelente enfermeira, começou a apresentar os primeiros movimentos espasmódicos.

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